Por: Maury Dorta Jr.
O aumento em produtividade e o encurtamento do ciclo de produção são temas recorrentes no meio agropecuário atualmente, mostrando-se como necessidade definitiva para o sucesso econômico na pecuária de corte brasileira. Integração lavoura-pecuária, reforma de pastagem, suplementação, confinamento, IATF, cruzamento industrial, são ferramentas e estratégias que servem como opção ao único propósito de viabilizar a produção agropecuária como um negócio rentável para o produtor. A genética é peça fundamental desse quebra-cabeça complicado que é ganhar dinheiro na pecuária de corte no Brasil e, por isso, algumas mudanças importantes vêm ocorrendo nos últimos anos.
Uma das mudanças mais marcantes foi a massiva utilização do cruzamento industrial, em especial com a raça Angus em sistemas de IATF, superando inclusive a venda de sêmen em número de doses em 2013 de animais da raça Nelore. Isso indica uma modificação importante de pensamento na pecuária de corte brasileira, e mostra que, finalmente, esse setor produtivo entendeu que o cruzamento industrial com as raças certas traz retorno para o pecuarista, e é aí que o Canchim se encaixa nesta nova pecuária brasileira.
Nascido há 60 anos, precoce e rústico, fruto de um trabalho de pesquisadores brasileiros iniciado em 1940, onde hoje se situa a Embrapa Pecuária Sudeste, em São Carlos (SP), que buscava um animal que reunisse as características produtivas da raça Charolesa e que, ao mesmo tempo, tivesse a rusticidade necessária para que se pudesse ter aumento de produtividade com eficiência no campo. O fato de ter nascido dentro de uma instituição de pesquisa determinou o sucesso do Canchim, já que sua formação e posterior expansão sempre foram pautadas por critérios técnicos de seleção desde o seu princípio, exaustivamente medida, posta à prova, avaliada e selecionada para que as características de interesse econômico para o produtor de carne fossem aprimoradas e fixadas na raça.
Dado o seu berço científico, o Canchim é uma das raças mais estudadas no país, com pesquisas realizadas ao longo dos anos por instituições de grande importância no Brasil e no mundo como Embrapa, USP e Unesp, trabalhos detalhados sobre desempenho, ganho de peso, fertilidade, funcionalidade, características de carcaça e qualidade de carne dos animais puros e de seus cruzamentos.
Ao longo dos anos, esses trabalhos serviram não só para constatar as qualidades da Raça para essas características, mas também para orientar sobre quais pontos precisavam ser aprimorados durante o processo de seleção.
Esses inúmeros trabalhos nos permitem duas conclusões importantes: a primeira é sobre a evolução da raça desde a sua criação, evolução sob todos os aspectos que hoje são essenciais para uma pecuária eficiente, competitiva e sustentável. O Canchim de hoje não é o mesmo 5/8 Charolês/Zebu de 60 anos atrás, é um animal lapidado racialmente, mais produtivo, mais adaptado, mais bem acabado, com maior potencial de ganho de peso e com maior fertilidade.
Como reflexo disto, temos a segunda conclusão: O Canchim é hoje, comprovadamente, a melhor opção para cruzamento a campo em qualquer região do Brasil. Não há outra raça no país que supere as qualidades do Canchim em cruzamento a campo para produção de carne e isto considerando desde a capacidade de trabalho e fertilidade do touro Canchim até o desempenho, terminação, qualidade de carne e carcaça dos seus produtos.
Quando falamos em capacidade de trabalho de um touro a campo é preciso ter consciência de que rusticidade não é brincadeira. Para garantir que um touro seja capaz de cobrir a campo em qualquer região do Brasil, e em especial no Centro Oeste e Norte do país, é necessário que este animal possua uma série de características, como umbigo e prepúcio corrigidos, cascos fortes, aprumos corretos, pelagem curta, adaptação ao calor e umidade, certa resistência a carrapatos e libido que o faça “ir atrás” da vaca em cio.
Em resumo, se o touro para cruzamento não aguentar pelo menos 5 anos cobrindo vacas, com índices de prenhez pelo menos iguais aos que se tinha com touros Nelore, não será viável utilizá-lo para monta a campo, por melhor que seja o resultado dos filhos que ele consiga produzir. Esse é o nível de exigência que a pecuária eficiente apresenta a uma raça para cruzamento a campo e essa é umas das maiores responsabilidades dos fornecedores de touros Canchim: garantir que seus animais possam ser chamados de “rústicos”.
O touro Canchim passa com louvor no quesito rusticidade, é eficiente na monta a campo e seus produtos têm baixo peso ao nascer. Atendidos estes pontos, podemos partir para o que esses animais têm de melhor, que é o produto do seu cruzamento, seja com matriz zebu ou F1. Vale lembrar que a base de matrizes de corte no Brasil é em sua maioria composta por fêmeas Nelore ou “aneloradas” e que uma pequena parcela destas matrizes (historicamente entre 10 e 20%) é trabalhada por Inseminação Artificial.
Disto tudo, vemos um quadro de grande potencial para o uso do touro Canchim para cruzamento, primeiro porque a monta a campo é a vocação do Canchim e temos para isto pelo menos 80% das matrizes de corte no país. Segundo porque os trabalhos de pesquisa realizados mostram que, nestas matrizes Nelore ou “aneloradas”, o cruzamento com o Canchim gera um acréscimo por volta de 15% de ganho em relação ao uso do touro Zebu.